Rifapentina e isoniazida na prevenção da TB em pacientes com HIV
A tuberculose continua sendo uma dificil realidade de saúde nas regiões menos desenvolvidas do mundo. Na África do Sul, a é a principal causa de morte e são muitos os casos da tuberculose associada ao HIV. As pessoas com HIV são mais propensas a progredir da tuberculose latente para a tuberculose ativa, tornando a prevenção da transmissão da tuberculose uma prioridade global.
Em 2018, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou um regime de 12 semanas de 900 gramas de rifapentina e 900 gramas de isoniazida, tomados uma vez por semana, para impedir que a infecção latente por tuberculose se transforme em doença tuberculosa. Anteriormente, seis a nove meses de isoniazida era a norma, mas uma pesquisa concluiu havia abandono do tratamento, na medida em que os sintomas melhoravam. Embora a adição de rifapentina prometesse aumentar as taxas de adesão e prevenir efetivamente a tuberculose, os cientistas estavam cautelosos em prescrever a combinação, conhecida como 3HP, para pessoas que tomavam dolutegravir, recomendado pela OMS como tratamento de primeira linha para pessoas que iniciam terapia anti-retroviral (TARV).
“De acordo com um estudo realizado entre voluntários saudáveis, soronegativos, havia preocupações de que o 3HP [rifapentina / isoniazida] e dolutegravir não fossem toleráveis quando administrados em conjunto”, explica Kelly Dooley, professor associado de medicina, farmacologia e ciências moleculares no Centro de Pesquisa de Tuberculose da Faculdade de Medicina da Universidade Johns Hopkins.
“Além disso, como a rifapentina é um forte indutor de enzimas metabolizantes, não tínhamos certeza se o 3HP reduziria significativamente as concentrações de dolutegravir o suficiente para que precisássemos ajustar a dose de dolutegravir”. Dooley, juntamente com colegas da Universidade da Califórnia em São Francisco e na África do Sul, lançou um estudo projetado para examinar a segurança e a eficácia da rifapentina e isoniazida em uma população soropositiva que toma dolutegravir.
O estudo, publicado no The Lancet HIV, registrou 60 adultos sul-africanos com HIV que estavam tomando efavirenz e foram suprimidos viralmente. Os participantes então fizeram a transição para um regime de TAR baseado em dolutegravir; após oito semanas no novo regime eles começaram a tomar doses semanais de rifapentina e isoniazida, que continuaram por 12 semanas. Então continuaram a tomar TARV por mais quatro semanas até a conclusão do estudo (com a opção de continuar a TARV após o estudo).
Exames de sangue foram realizados na linha de base e a cada poucas semanas durante o período da pesquisa.
Durante o estudo, houve três eventos adversos de grau 3, incluindo dois episódios de creatinina elevada possivelmente associados à TARV e um episódio de hipertensão considerado improvável de ser causado pela TARV.
As concentrações médias mínimas de dolutegravir dos participantes foram suficientes ao longo do estudo levando os pesquisadores a concluir que a rifapentina e isoniazida são seguros e eficazes para a prevenção da tuberculose em pessoas HIV positivas, que observam a dosagem diária padrão de 50 mg. de dolutegravir.
Os autores observaram ainda que em um estudo anterior em que rifapentina e isoniazida foram administradas em pessoas HIV negativos, sendo que apenas quatro participantes da pesquisa apresentaram eventos adversos, como febre, enzimas hepáticas elevadas, altos níveis de proteína C reativa e aumento nos níveis de citocinas.
O próximo passo da investigação é um estudo ampliado, envolvendo pessoas vivendo com HIV que ainda não iniciaram a TARV.”Vamos explorar os efeitos do 3HP nos resultados do tratamento do HIV para confirmar que o 3HP e o ART podem ser iniciados simultaneamente e que isso é seguro e eficaz. O importante é que nosso estudo forneceu as informações de segurança e dosagem necessárias para apoiar o lançamento do 3HP entre pessoas vivendo com HIV em uso de dolutegravir”.
Fonte:
http://tbonline.info/posts/2020/4/22/rifapentine-and-isoniazid-tb-prevention-patients-h/